Paciente de 49 anos de São Felipe foi a primeira a fazer o transplante cardíaco na Bahia desde 2022 / Foto: Divulgação
O transplante de coração voltou a ser uma realidade na Bahia depois de um ano e nove meses sem a cirurgia, paralisada no estado por causa da pandemia. O retorno havia sido antecipado pelo Aratu On em agosto deste ano. Nessa quarta-feira (4/10), uma paciente de 49 anos, natural de São Felipe, a cerca de 180 km de Salvador, que aguardava há uma semana na fila por um transplante, recebeu um novo coração.
A paciente transplantada era acompanhada pelo Ambulatório de Insuficiência Cardíaca do Hospital Ana Nery, na capital baiana, onde realizou uma série de exames para, assim, tornar-se apta para a cirurgia. O procedimento foi realizado na própria unidade de saúde, que é referência em cardiologia no estado, e viabilizado graças à doação realizada por familiares de um paciente de 29 anos, vítima de Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), que estava internado no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana.
Para o transporte do órgão doado, a equipe do HGCA contou com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que realizou a escolta da ambulância que levava o coração até a capital baiana, onde o transplante pode ser realizado em tempo hábil. Todo o procedimento de captação precisa acontecer em quatro horas, tempo máximo que o coração pode ficar armazenado. “A cirurgia durou cerca de cinco horas e foi um sucesso, a paciente passa muito bem”, explicou o médico Filinto Marques, membro da equipe do Ana Nery
A secretária da Saúde da Bahia (Sesab), Roberta Santana, comemorou a retomada do transplante cardíaco em solo baiano. “Hoje é um dia de muita alegria para todos nós. Através de uma família que se dispôs a doar, conseguimos salvar uma vida. Estamos muito felizes com a retomada do transplante cardíaco e com a possibilidade de garantir a realização do procedimento no próprio estado. Esse é o Sistema Único de Saúde (SUS) que trabalhamos diariamente para construir”, disse.
MAIS DE 15 PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS
Segundo a Sesab, desde o mês de setembro que o Ana Nery estava com tudo pronto para retomada do serviço. Ao todo, uma equipe multidisciplinar com 15 profissionais de saúde especializados em transplante são responsáveis por conduzir os procedimentos, como explica o Coordenador do Programa de Insuficiência Cardíaca Avançada do Hospital Ana Nery e diretor da unidade, Luiz Carlos Santana.
“A equipe conta com quatro cirurgiões cardíacos, dois médicos especialistas em insuficiência cardíaca, dois enfermeiros, fisioterapeutas e anestesistas envolvidos diretamente no cuidado, na operação de captação e de execução do processo de transplante. Para além disso, outros setores do hospital também estão preparados, são diversas especialidades envolvidas para oferecer o tratamento adequado aos pacientes do pré ao pós-transplante”, explicou o diretor
BAHIA
Dados do Sistema Estadual de Transplantes (STE), mostram que, até agosto de 2023, a Bahia realizou 701 transplantes, sendo 27 de fígado, 210 de rim, 362 de córnea e outros 102 de medula óssea. Atualmente, o estado realiza cinco tipos de procedimentos: coração, córnea, rim, fígado e medula. No período, o número de doadores de múltiplos órgãos aumentou de forma considerável, saltando de apenas três no primeiro mês do ano para 19 em agosto.
Atualmente, a Bahia conta com uma rede com 23 centros transplantadores, sendo que sete oferecem atendimento pelo SUS. Desses, três são unidades públicas: o Hospital Geral Roberto Santos, o Hospital Ana Nery e o Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Além deles, integram a rede os hospitais filantrópicos Martagão Gesteira, em Salvador, e Dom Pedro de Alcântara, em Feira de Santana, e os privados IBR, de Vitória da Conquista, e Hospital Português, na capital.
TRATAMENTO FORA DO DOMICÍLIO
No período em que a Bahia ficou sem realizar o transplante cardíaco, a população continuou sendo assistida e tendo o procedimento assegurado através do Tratamento Fora do Domicílio, o TFD, algo realizado não somente para transplantes, mas para qualquer situação de saúde em que o estado não tem aquele tratamento.
Segundo o coordenador do Sistema, Eraldo Moura, quando o estado não dispõe do tratamento, ele encaminha o paciente para outra Federação. No caso dos transplantes, a pessoa vai para Pernambuco, São Paulo, Ceará e Brasília, com todos os custos bancados pelo estado de origem.
NÚMEROS
De janeiro a setembro de 2023, o Brasil registrou 6.622 transplantes de órgãos sólidos, como coração, rim, pulmão e fígado, por exemplo, segundo o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde. Desses, 267 foram realizados na Bahia. Como continuidade às ações de fortalecimento do SUS e melhoria da assistência à população brasileira, a pasta mais que dobrou a autorização de novos serviços de transplante, que passaram de 31 em 2022 para 64 em 2023 – aumento de 106%. Ao todo, o Brasil tem 1.198 serviços credenciados para transplantes.
Quando incluídos os transplantes de córnea e medula óssea, o país avançou 9,5% nos procedimentos realizados entre janeiro e agosto, quando comparado com o mesmo período de 2022. Até agosto deste ano, foram feitos 18.461 transplantes em todo o Brasil, sendo que ano passado o total registrado foi de 16.848 cirurgias
O Ministério da Saúde também divulgou número recorde de doadores efetivos no primeiro semestre de 2023, com 1,9 mil doadores, o que possibilitou a realização de 4.377 transplantes de órgãos sólidos, número 16,2% maior do que em 2022. Quando somados os meses de julho e agosto de 2023, o total de doadores efetivos salta para 2.435. Com a tendência de aumento já observada até agora, a expectativa é fechar 2023 com um recorde inédito.
Em campanha durante o mês de setembro, com o tema “Doe uma segunda chance, doe órgãos”, a pasta reforça a importância da conscientização sobre o ato de doar. De acordo com o SNT, inúmeras pessoas podem ser beneficiadas com os órgãos e tecidos provenientes de um mesmo doador. Na maioria das vezes, o transplante pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para quem precisa da doação. Atualmente, 40.567 mil pessoas aguardam por um transplante de órgão no Brasil. Dessas, 2.057 estão na Bahia.
REFERÊNCIA
O Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Em números absolutos, é o segundo maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A rede pública de saúde fornece aos pacientes assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante. Para doação de órgãos, é fundamental que a pessoa interessada deixe clara para a família a sua vontade de doar, pois somente com a autorização dos familiares a doação pode ser efetivada.