Reunindo cerca de 600 pessoas, foi das lutas mais importantes contra a escravidão no Brasil
Ocorrida entre os dias 24 e 25 de janeiro de 1835, a Revolta dos Malês foi um levante dos escravos de Salvador, Bahia, que se destacou por ter uma forte motivação religiosa e ser encabeçada por líderes letrados. Reunindo cerca de 600 pessoas, foi das lutas mais importantes contra a escravidão no Brasil.
Para o professor de história da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Wilson Maske, a importância de relembrar esse evento está em discutir condições de igualdade para pessoas de origens diversas, a fim de que todos tenham direitos iguais ao acesso ao trabalho e à educação, independentemente de raça, religião ou gênero.
Contexto
No início do século 19, a cidade de Salvador contava com, aproximadamente, 65 mil habitantes, dos quais cerca de 40% eram escravos oriundos de Cabinda, Benguela e Luanda. Quando incluídos homens livres e alforriados, os negros e mestiços representavam 78% da população.
Na época, a Bahia também era marcada pela crise econômica e a escassez que atingiram os segmentos mais pobres e cativos da cidade — o que, mais tarde, fez com que se transformasse em palco da revolta.
Segundo Maske, o levante pode ser representado pela conjunção de conflitos de classe, etnia e religião, comuns a boa parte da população da época. "Embora tenham participado não apenas escravos, mas também libertos, foi possível construir uma identidade entre ambos baseada em experiências comuns: o próprio cativeiro, a experiência de trabalho nas ruas, as condições de vida muito parecidas e a discriminação racial", afirma.
A Revolta
Os malês — "muçulmanos", na língua iorubá — eram povos africanos escravizados que, impedidos de exercer suas crenças islâmicas, organizaram um movimento de resistência motivado pela repressão das autoridades baianas.
O grupo queria tomar para si seus direitos de realizar festas religiosas, ir à mesquita e, claro, ter sua liberdade. Por isso, organziaram uma rebelião que, mesmo que por apenas poucas horas, tomou as ruas da cidade. O primeiro alvo a ser atingido foi a Câmara Municipal de Salvador, cujo subsolo guardava a prisão onde se encontrava Pacífico Licutan, um dos mais populares líderes malês.
O movimento foi arquitetado para eclodir em um dia religioso, quando, na região do Bonfim, aconteceria uma festa católica celebrando Nossa Senhora da Guia. Mais especificamente, esse seria no momento em que os escravos sairiam para cumprir tarefas cotidianas e se uniriam contra governo.
Segundo registros, o plano incluía provocar, em diversos pontos da cidade, incêndios simultâneos que distraíssem a atenção das autoridades. Porém, o movimento foi descoberto por um juiz de paz e, antes mesmo de eclodir, as forças policiais se articularam rapidamente para impedir o conflito.